Uma mudança na projeção de inflação no horizonte relevante somada à nova comunicação do Banco Central no texto divulgado após a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) da última semana levou o ASA a revisar o seu cenário para a taxa básica de juros no próximo ano.
A expectativa agora é de que o BC antecipe o corte para a reunião de janeiro, com redução de 0,25 ponto percentual da Selic.
Antes, a projeção era de corte em março, de 0,50 pp, considerando um cenário de curto prazo mais benigno e sua projeção mais próxima da meta. Com a mudança, a taxa terminal estimada em 11,75% está sob avaliação.
A ata do Copom, divulgada nesta terça-feira (16), foi considerada mais 'hawkish' (favorável a juros mais altos), embora com tom mais confiante, segundo Leonardo Costa, economista do ASA.
"O Copom reconhece a melhora do cenário, mas insiste em juros elevados por período prolongado. Além disso, reforça riscos inflacionários e mantém a opção explícita de voltar a subir juros", avalia.
Na semana passada, o BC manteve a taxa Selic em 15% ao ano pela quarta vez consecutiva. No comunicado, mostrou revisão para baixo na projeção para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em seu horizonte relevante, de 3,3% para 3,2%, aproximando-se ainda mais do centro da meta de 3% (e, provavelmente, em 3,1% no horizonte relevante que será observado na reunião de janeiro de 2026).
No cenário doméstico, o BC reiterou a moderação do crescimento, destacando o dado mais fraco do PIB do 3º trimestre e a desaceleração da inflação corrente (ainda acima da meta). No ambiente externo, o Comitê voltou a apontar a necessidade de cautela, refletindo os desdobramentos da política econômica dos Estados Unidos sobre as condições financeiras globais e, em especial, sobre economias emergentes.
Já o balanço de riscos foi mantido como equilibrado, mas o Copom reforçou que os riscos, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual.
Outro ponto relevante do comunicado, segundo Costa, foi a mudança sutil na condução da política monetária.
"O Comitê passou a afirmar que 'a estratégia em curso, de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado, é adequada', o que, em nossa interpretação, justifica a fala recente de Gabriel Galípolo, presidente do BC, que indicava que o período prolongado valia a partir de quando o juro atingiu 15%", diz Costa.
O economista avalia que a inclusão do “em curso” pode indicar que o BC avalia que a estratégia já está em execução e vem produzindo os efeitos esperados, tornando a ênfase menos prescritiva e mais descritiva do quadro atual.
"Em outras palavras: o Comitê sugere que a política restritiva está funcionando agora, no retrato presente, ainda que mantenha a vigilância, abrindo espaço para ficar mais dependente dos dados nas suas próximas decisões", afirma Costa.