Por Caio Crepaldi, head de fundos de crédito privado do ASA*
O mercado de crédito privado vem ganhando espaço como alternativa atraente para investidores que buscam retornos superiores aos dos fundos de renda fixa tradicionais.
No entanto, essa classe de ativos não é indicada para todos. Embora a rentabilidade esperada seja superior à dos títulos públicos, também envolve riscos relevantes, especialmente no que diz respeito à liquidez e à capacidade de pagamento das empresas emissoras dos títulos.
Um dos principais atrativos dos ativos de crédito privado está na possibilidade de acessar oportunidades que aumentam a rentabilidade de um portfólio e podem contribuir para diversificar a carteira e reduzir seu risco total.
Ao investir nessa classe, o investidor passa a ter exposição a operações vinculadas a empresas privadas, muitas vezes com estruturas mais complexas e, por isso mesmo, potencialmente mais rentáveis.
Esse tipo de investimento tem ganhado espaço no Brasil pela variedade de estruturas e pela capacidade de capturar prêmios de risco mais elevados. Isso reflete um mercado ainda em amadurecimento, com ineficiências que gestores qualificados podem aproveitar.
O desempenho acima da média costuma estar diretamente ligado à capacidade de seleção dos gestores ao identificar boas oportunidades, muitas vezes inacessíveis para investidores individuais.
Ainda assim, esses retornos não vêm sem riscos. A baixa liquidez e o risco de inadimplência são dois dos principais desafios. Diferentemente dos títulos públicos, com grande volume de negociação no mercado secundário, os papéis de crédito privado tendem a ser menos negociados. Muitos fundos também compram ativos com prazos longos, na tentativa de buscar retornos mais atrativos.
Em 2023, tivemos eventos que ilustraram bem esses riscos, mostrando como até operações com emissores conhecidos podem surpreender negativamente, especialmente quando há falhas de governança. Houve eventos relevantes com grandes empresas, que levaram diversos fundos a enfrentarem saques elevados e dificuldades para atender aos resgates, além de prejuízos relevantes.
Por outro lado, o ambiente regulatório brasileiro tem evoluído para oferecer mais segurança aos investidores. Em 2023, a CVM implementou novas regras exigindo testes de estresse obrigatórios para esses fundos. A Instrução 175 da autarquia e as normas da Anbima vêm exigindo maior transparência das gestoras, além de impor limites de concentração em poucos emissores.
Apesar dos avanços, ainda há desafios, principalmente quanto à transparência. Um ponto crítico é a assimetria informacional: as gestoras frequentemente detêm mais informações sobre os riscos e o desempenho real dos investimentos do que os cotistas. Essa diferença pode levar investidores a tomarem decisões menos embasadas, sem visibilidade completa da qualidade dos ativos ou dos riscos envolvidos.
Soma-se a isso a dificuldade de precificação dos papéis de crédito no mercado secundário brasileiro. Com poucos negócios ocorrendo, torna-se difícil determinar o valor real dos papéis de alguns papeis, o que pode gerar distorções no valor da cota dos fundos.
Para quem está disposto a assumir tais riscos, a escolha criteriosa dos gestores faz toda a diferença. Títulos bem estruturados, emitidos por empresas com boa geração de caixa e garantias consistentes, tendem a se comportar melhor em cenários adversos. Além disso, uma carteira bem diversificada, com exposição setorial controlada, ajuda a reduzir o impacto de inadimplências e choques macroeconômicos.
A experiência nos mercados de crédito privado mostra que a qualidade da análise de risco é o principal fator para obter resultados consistentes no longo prazo. Nos países desenvolvidos, a maior maturidade dos sistemas legislativo e judiciário favorece os credores, resultando em índices de recuperação mais altos e prazos de negociação mais curtos. Economias emergentes muitas vezes exigem modelos mais rigorosos de avaliação. Por isso, é ainda mais importante contar com metodologias robustas, que levem em conta a capacidade de pagamento, as garantias envolvidas e os cenários econômicos, essencial para identificar riscos e montar carteiras mais resilientes.
Os fundos de crédito privado podem ser uma boa alternativa para diversificar carteiras, desde que o investidor esteja atento a alguns pontos-chave: a qualidade da gestão, a solidez das empresas financiadas e, sobretudo, o alinhamento com seu perfil de risco.
O diferencial desses fundos está na capacidade de avaliar e gerenciar riscos com profundidade, transformando operações menos líquidas em oportunidades com bom retorno ajustado ao risco. Como em qualquer investimento, o sucesso depende menos da busca por retornos máximos e mais de uma leitura clara dos riscos envolvidos, além de disciplina na seleção.