Artigo escrito por Rogerio Freitas, head de investimentos do ASA*
O processo de alocação pode usualmente ser dividido em dois componentes: estratégico e tático.
O processo de alocação estratégica envolve, com base em uma visão de longo prazo do retorno, definir os pesos de cada classe de ativo e, com isso, a composição do portfólio. Ao longo do tempo, existe a necessidade de rebalanceamento sempre que nos distanciamos muito do mix inicial.
Já o processo de alocação tática envolve ajustar o portfólio de modo a se beneficiar de desvios de curto prazo no preço dos ativos dadas as condições de mercado.
O que sabemos sobre a importância relativa de cada componente?
Estudos empíricos demostram que ao longo de um ciclo de investimento completo a alocação estratégica é responsável por 85% a 90% dos retornos de longo prazo de um portfólio.
Os outros 10% a 15% podem ser obtidos por meio do processo de seleção de ativos e/ou de fundos somado ao chamado market timing,que é a escolha do momento exato de entrar e sair de um ativo e/ou de um fundo. Um estudo de referência é“ Determinants of Portfolio Performance”, de Gary P.Brinson.
Vale lembrar que quanto mais diligentes e eficientes os processos de (i) asset allocation; (ii) seleção de ativos e; (iii) market timing, mais eles contribuirão para a soma de todas as partes na composição do retorno total do portfólio.
Entretanto, o contrário também é verdadeiro, processos mal planejados ou executados, podem ser detratores do retorno total.
Mais detalhes sobre esse tema podem ser explorados no livro de DavidSwensen,“Pioneering Portfolio Management: an unconventional approach to institutional investment”, ou em alguns artigos acadêmicos como o do professor Roger G. Ibbotson intitulado“The Importance of Asset Allocation”.
Um portfólio em constante mudança
Uma das características de um processo de alocação bem montado é que ele nunca se encerra e demanda ajustes constantes. Aqui entramos na teoria de ciclo de vida para investimentos e na integração da construção de portfólio com o planejamento financeiro de cada indivíduo ou família.
Ao longo de nossa vida, nossos objetivos mudam (ex: mais acumulação de patrimônio no início, mais preservação em outros períodos), nossa situação de vida muda (constituição familiar, remuneração,patrimônio, etc.), e tais mudanças podem demandar ajustes em nossos investimentos para que atendam aos diferentes momentos do nosso ciclo de vida.
Existe todo um campo que foi desenvolvido em finanças e que aborda esse tema chamado“Theory of Lyfe-Cycle Saving and Investing”.
O processo de alocação e o portfólio de cada investidor são tão mais eficientes quanto mais levarem em conta as condições específicas de cada um. Por esse motivo, o portfólio ótimo, ou seja, o mais eficiente, muda ao longo do tempo. Isso reforça a necessidade do conhecimento profundo de cada investidor e o papel essencial de um bom assessor/consultor financeiro.
Resumindo
Um processo de asset allocation bem-feito é uma ferramenta essencial para ajudar a atingir os objetivos específicos de cada investidor. Ele age de forma a sistematizar nossa decisão de investimento, minimizar nossa exposição aos nossos vieses comportamentais e garantir que estejamos sempre na melhor relação risco x retorno esperados.
Apesar de suas bases teóricas terem sido estabelecidas na década de 1950, o processo continua em constante aperfeiçoamento e evolução. Os modelos quantitativos e de inteligência artificial vêm a se somar ao ferramental que utilizamos, mas o processo mantém uma parcela de “arte” especialmente no entendimento correto da aversão ao risco de cada investidor e seu comportamento diante de oscilações de mercado.
É essencial contemplar sua integração correta ao planejamento financeiro, sendo o assessor uma peça fundamental nesse processo.
Levar em conta as condições específicas e momento de vida de cada investidor garante que possamos criar portfólios consistentes que assegurem a maior probabilidade de atingir nossos objetivos.
*Artigo publicado originalmente no Valor Econômico